Quando surgem conflitos na escola, prevenção e soluções

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Abraham McLaughlin
Quando surgem conflitos na escola, prevenção e soluções

Conteúdo

  • O conflito na área escolar
  • A diversidade
  • Tipos de conflito escolar
  • Seqüência do conflito
  • Prevenção de conflitos
  • Como resolver um conflito
  • Bibliografia

O conflito na área escolar

Na escola, como em outros ambientes sociais, os conflitos são comuns. No entanto, os conflitos não devem ser considerados de forma negativa, mas sim de forma mais positiva, pois a forma de abordá-los determinará não só o resultado obtido, mas também o que se aprende com ele..

A partir dos diferentes conflitos que encontramos na vida, desenvolvemos uma série de competências pessoais, sociais, de comunicação, de relacionamento, etc., que nos permitem a integração social com outras pessoas. Através deste processo, adquirimos uma série de estratégias para resolver de forma pacífica as dificuldades e problemas que vão surgindo..

Por isso, é importante trabalhar desde a escola para conhecer e praticar diferentes formas de lidar com os conflitos. Para isso, será necessário substituir a perspectiva educativa punitiva e sancionadora prevalecente em tempos passados ​​por uma perspectiva cooperativa e convivial..

A diversidade

A diversidade entre os alunos, de qualquer tipo, freqüentemente se torna a fonte de conflito na escola. Dificuldades de aprendizagem, altas habilidades, deficiências físicas ou mentais e diferenças linguísticas ou culturais tornam os alunos objetos de ridículo, rejeição e marginalização. Desta forma, um conflito de relacionamento é gerado entre os alunos.

Mas, fora dessa situação, as dificuldades que os alunos podem apresentar para acompanhar adequadamente o processo de ensino muitas vezes levam ao aparecimento de comportamentos disruptivos em sala de aula, desmotivação e até mesmo absenteísmo. E o mesmo acontece no caso de alunos com altas habilidades, uma vez que o tédio e a falta de motivação dão origem ao desenvolvimento de comportamentos disruptivos nas aulas, o que gera um conflito entre professores e alunos..

Tipos de conflito escolar

Os conflitos no centro educacional podem derivar das relações estabelecidas entre os membros da comunidade educacional:

  • Relações entre professores: pode haver divergência de opiniões sobre várias questões pessoais e profissionais, como a forma de abordar um assunto, as atividades planejadas, o uso de tempos e espaços no centro, etc. É necessário aumentar a comunicação entre a equipe docente para evitar mal-entendidos e desenvolver formas semelhantes de trabalho nas diferentes disciplinas, se possível.
  • Relações entre professor e aluno: no sistema educacional houve uma mudança na metodologia utilizada e há uma participação crescente dos alunos. No entanto, ainda pode haver professores que mantêm métodos anteriores e desenvolvem suas aulas de uma forma que não é muito atraente para os alunos. Isso pode levar à desmotivação e à ruptura do grupo. É extremamente importante que os professores usem métodos mais participativos, baseados na aprendizagem cooperativa, para motivar os alunos e reduzir os comportamentos disruptivos na sala de aula. E se isso acontecer, é conveniente abordá-los com métodos que não sejam coercitivos nem punitivos, mas mais abertos e cooperativos. Isso não significa que o professor perca sua autoridade diante dos alunos, mas sim que tenta motivá-los a ver o centro como se fosse seu e a se envolver com ele. Nos últimos tempos, constatou-se que o aumento dos conflitos entre professores e alunos tem gerado situações de assédio aos professores e suscitado problemas significativos de convivência nos centros de ensino. Para prevenir e enfrentar estes casos, é necessário um projeto educativo fortemente envolvido na educação em valores e na formação de competências sociais e pessoais que promovam a convivência adequada nas salas de aula. Além disso, é necessário envolver a família nesse processo, como veremos adiante..
  • Relações entre alunos: as relações entre alunos são aquelas que são principalmente marcadas por vários conflitos. Os alunos passam muitas horas e dias juntos na escola, estabelecem relações de amizade e inimizade e podem surgir muitos conflitos. Por este motivo, é conveniente abordar os conflitos nas salas de aula e orientar para uma boa convivência..

Seqüência do conflito

Pérez e Pérez (2011) descreveram as seguintes etapas no desenvolvimento de um conflito:

  • O conflito é latente: os envolvidos não se sentem à vontade, sabem que a situação não é a usual, que algo vai acontecer em algum momento.
  • O conflito se manifesta: a situação explode e o conflito surge. Ambas as partes percebem que chegou a hora de enfrentar a situação e sentimentos diferentes se manifestam.
  • Surgem sintomas de tensão: os envolvidos podem apresentar diversos sentimentos e emoções na situação e, portanto, modificar seu comportamento verbal e não verbal.
  • As partes em conflito assumem posições: cada uma delas define inicialmente objetivos ou metas que devem ser alcançados na resolução do conflito. Geralmente, os interesses são opostos e comportamentos de confronto são manifestados.
  • Comportamentos estereotipados começam: comportamentos de confronto afetam o relacionamento entre as pessoas e sua comunicação, o que pode dificultar uma solução satisfatória para o conflito e ter consequências negativas de longo prazo.
  • Novos papéis surgem: dependendo da relação simétrica ou assimétrica estabelecida, desenvolvem-se diferentes comportamentos entre os envolvidos na igualdade, superioridade ou inferioridade.
  • Comunicação prejudicada: a situação provocou alterações significativas na relação entre as pessoas e também na comunicação que estabelecem, o que determinará a forma como o problema será resolvido.
  • Compreensão inadequada dos fatos: mal-entendidos ou interpretações incorretas podem ocorrer devido aos problemas de comunicação que discutimos. Isso permite que o conflito continue e piore ainda mais o relacionamento entre as partes..
  • As coincidências são subestimadas: diante dessa situação, parece não haver possibilidade real de se chegar a um acordo e quando os envolvidos parecem pensar o mesmo, tendem a desconfiar..
  • Atitudes que dificultam o vínculo: podem aparecer certos comportamentos que podem complicar ainda mais a situação, como autoritarismo, desqualificação, discriminação e simbiose.

No desenvolvimento do conflito, não é obrigatório que todas as fases propostas ocorram nesta sequência. Pode haver diferenças no processo dependendo do tipo de conflito, da relação entre os envolvidos ou do processo de resolução.

Prevenção de conflitos

É claro que antes que um conflito surja, devemos tentar evitá-lo. Para tanto, devemos “ensinar a conviver”, como destacam Funes e Saint-Mezard (2001)..

A atividade docente não consiste apenas em ensinar um conjunto de conhecimentos, mas também em promover a aprendizagem de competências, valores, comportamentos sociais, etc., que permitam o estabelecimento de relações sociais adequadas, satisfatórias e pacíficas..

Os professores podem transmitir formas de comportamento adequadas para garantir uma boa convivência dentro e fora da sala de aula. Não é necessário dedicar tempo específico a essas atividades, embora também possa ser feito, mas cada professor das aulas dedicadas à sua disciplina pode abordar esses aspectos de maneiras diferentes..

É muito importante trabalhar a comunicação, para facilitar uma troca adequada de mensagens, que leve em consideração os aspectos verbais e não verbais. Trata-se de desenvolver uma comunicação fluida através do uso de escuta ativa, empatia e assertividade.

Os alunos precisam ser capazes de discutir uma variedade de tópicos e chegar a um acordo ao explicar cada ponto de vista. Para isso, podem ser realizados em sala de aula diversos debates que convidam à reflexão, ao diálogo e à obtenção de uma solução comum..

Por outro lado, podemos propor algumas recomendações na organização da aula:

  • Use as primeiras semanas para definir as regras de comportamento, a forma de trabalhar e os objetivos que se espera alcançar. Isso garantirá que os alunos saibam o que se espera deles e reduzirá as interrupções na sala de aula..
  • É importante que o professor mantenha consistência em sua atitude. Você deve tratar todos os alunos igualmente e não se deixar levar pelo uso de rótulos.
  • É conveniente fazer uso de certos aspectos não verbais. Por exemplo, mover-se pela classe para controlar o grupo. Desta forma, comportamentos disruptivos são reduzidos e a existência de regras na sala de aula é lembrada.

Além disso, o professor pode agrupar os alunos de acordo com a atividade a ser trabalhada. Assim, favorece o relacionamento interpessoal entre eles e o conhecimento mútuo.

Por fim, recomenda-se que as atividades sejam bem estruturadas e adequadas ao seu nível acadêmico. Desta forma, os alunos serão capazes de realizá-los sem problemas..

No processo de prevenção de situações de conflito, não devemos deixar de envolver a família, como principal meio social no desenvolvimento dos alunos, o que contribuirá para a aquisição e utilização de competências e comportamentos adequados para uma boa convivência. Para abordar a importância da participação e envolvimento da família no centro educacional, um capítulo específico foi designado neste manual..

Como resolver um conflito

Díaz-Aguado (2000) defende a necessidade de ensinar os alunos a resolverem os conflitos por conta própria. Para fazer isso, ele propõe as seguintes etapas:

  • Analise o conflito: em que consiste, como se desenvolveu, etc..
  • Defina as metas que deseja alcançar e priorize-as.
  • Propor alternativas como solução para o problema e avaliar suas vantagens e desvantagens.
  • Selecione a solução com a melhor avaliação e desenvolva as etapas a serem seguidas.
  • Lance a solução selecionada.
  • Avalie o resultado e possíveis melhorias.

Essas etapas podem ser utilizadas na resolução de qualquer conflito e podem ser treinadas por meio de diferentes atividades, dinâmicas e exercícios. No entanto, é aconselhável praticar bem todas as etapas, por exemplo, por meio de dramatização, para garantir o aprendizado correto..

Quando o problema é mais sério e o indivíduo não consegue resolvê-lo sozinho, pode ser conveniente utilizar outras estratégias, nas quais ele terá a ajuda de outras pessoas. Essas estratégias são:

  • Alunos auxiliares: sua função é ajudar os colegas de classe quando necessário, após terem recebido o treinamento básico nas habilidades de comunicação e sociais mencionadas acima e sempre com a supervisão do corpo docente.
  • Mediação: é usada para resolver conflitos entre duas pessoas que solicitam a ajuda de uma terceira pessoa para orientar o processo para chegar a uma solução.
  • Negociação: é um processo semelhante ao anterior, embora seja frequentemente realizado entre as duas partes envolvidas no conflito. Por vezes, um terceiro pode intervir como negociador, sendo a diferença fundamental que na negociação esse terceiro, além de controlar o diálogo entre as partes em conflito, pode intervir no estabelecimento dos acordos a serem adotados..
  • Assembleia: é um processo de debate que visa a reflexão coletiva e o estabelecimento de pactos entre todos os envolvidos.
  • Consenso: é o mesmo processo que acabamos de discutir, mas difere na medida em que o objetivo é chegar a uma decisão unânime.
  • Método Pikas: usado quando o assédio ou maus-tratos ocorrem entre iguais. Entrevistas individuais são realizadas com a vítima e o agressor para interromper a agressão. Posteriormente, entrevistas conjuntas podem ser propostas se a evolução for positiva.
  • Círculo de amigos: usado quando um grupo ou grande parte dele rejeita ou marginaliza um aluno. Um encontro com o grupo é estabelecido sem a presença do aluno para refletir sobre a situação e chegar a um compromisso com a mudança.

Na resolução de um conflito, a participação e o envolvimento da família podem ser necessários.

As duas últimas estratégias serão utilizadas apenas quando ocorrerem casos extremamente graves, conforme indicado em sua descrição..

Bibliografia

Acland, A. F. (1997). Como usar a mediação para resolver conflitos nas organizações. Barcelona: Editorial Paidós.

Díaz-Aguado, M. J. (2000). Previna a violência ensinando a resolução de conflitos e por meio da disciplina. In M. J. Díaz- Aguado (Dir.), Prevenção da violência em contextos escolares. Documentos do curso ministrado pela Televisão Educativa Ibero-americana.

Fernández, I. (1999). Prevenção da violência e resolução de conflitos: o clima escolar como fator de qualidade. Madrid: Edições Narcea.

Funes, S. e Saint-Mezard, D. (2001). Conflito e resolução de conflitos escolares: A experiência da mediação escolar em Espanha. XXIII Summer School do Conselho Educacional de Castilla y León. Obtido em 29 de setembro de 2011 em http://www.concejoeducativo.org

Funes, S. e Saint-Mezard, D. (2009). Guia de recursos eficazes para lidar com situações de conflito. In S. Funes (Coor.), Gestão eficaz da convivência em centros educativos (p. 75-92). Madrid: Wolters Kluwer.

Munduate, L., Ganaza, J. e Alcaide, M. (1993). Estilos de gestão de conflitos interpessoais nas organizações. Journal of Social Psychology, 8 (1), 47-68.

Pérez, G. e Pérez, M. V. (2011). Aprender a conviver como oportunidade de conhecimento. Madrid: Edições Narcea.


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