A geografia social é um ramo da geografia humana que estuda as relações entre o espaço geográfico e as diferentes manifestações da sociedade humana, como movimentos migratórios, dinâmicas cidade-país ou diferentes movimentos sociais emergentes..
Com antecedentes que remontam às primeiras décadas do século XX, foi somente em meados da década de 1970 que a geografia social começou a ganhar especial relevância..
Antes do surgimento da geografia social, esta disciplina era concebida mais como o estudo dos espaços naturais ou o registro das grandes mudanças produzidas pelo ser humano na área geográfica, sem uma abordagem social a ela..
Pelo seu tratamento e pelo seu campo de estudo, é considerada muito próxima de outras formas de conhecimento, como a sociologia e a antropologia social, e viria a se diferenciar de outros ramos da geografia próximos ao dar maior ênfase aos problemas sociais..
Por um lado, a escola francesa de geografia e, por outro, a escola sociológica de Chicago, ambas durante os anos 20 do século passado, foram apontadas como antecedentes ou origens da geografia social..
Na França, a figura mais proeminente seria Paul Vidal de la Blache (1845-1918), que insistia na estreita relação entre as comunidades humanas e o ambiente natural, ou seja, a influência de fatores como o clima, a topografia e a qualidade da solos em sociedades rurais.
Nos Estados Unidos seria a escola sociológica de Chicago, na figura do sociólogo Robert Park (1864-1944), que, influenciado pelas ideias evolucionistas de Charles Darwin e pela botânica, proporia um modelo de desenvolvimento urbano no qual grupos humanos se comportariam de maneira semelhante às espécies botânicas.
Outro membro da escola de Chicago, Ernest Burgess (1886-1966), proporia um modelo de ocupação concêntrica das cidades, que influenciaria geógrafos e sociólogos nos anos posteriores..
Burgess sugeriu que a distribuição espacial das cidades era também uma distribuição social, com um centro dedicado a negócios e escritórios, um segundo círculo com armazéns e armazéns, o terceiro com famílias de baixa renda, outro com renda média e uma periferia composta por a classe mais próspera.
No entanto, para autores como David Smith e John Eyles, a geografia social é produto de tendências de pesquisa que surgiram no pós-guerra (após 1945), com estudos realizados durante as décadas de 1960 e 1970..
Como parte do surgimento dessa disciplina, destaca-se a “geografia radical” do britânico David Harvey (1935), e outras abordagens de raízes marxistas na Europa, Estados Unidos e América Latina, como a do geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001).
Na Alemanha, durante a década de 1970, surgiu a chamada “geografia crítica”, baseada nos postulados da teoria crítica da Escola de Frankfurt. Tanto radicais quanto críticos estão incluídos na chamada geografia social.
Também tem havido presença, especialmente na França, de correntes e teorias sociais como o estruturalismo e o pós-modernismo..
Na geografia social francesa, destaca-se a figura de Robert Hérin (1936). E na Espanha, no campo da geografia urbana, destaca-se a figura de Manuel de Terán (1904-1984)..
Desde meados da década de 1980, essa disciplina incorporou outras perspectivas, oriundas dos movimentos ambientalista, feminista e LGBTQ..
O objeto de estudo da geografia social são as relações e dinâmicas que se estabelecem entre grupos e movimentos sociais e o espaço geográfico; abordando aspectos como a história da ocupação dos diversos espaços, a relação cidade-campo, a implantação ou inexistência de serviços básicos, entre outros aspectos.
Também, por algumas décadas, tem lidado com questões e problemas como racismo, crime, desigualdade na prestação de serviços públicos, relações de gênero, etc..
E atualmente ele tem colocado muita ênfase nos processos de migração globais e locais, e na crescente deterioração do meio ambiente, bem como na forma como os diferentes grupos sociais percebem o espaço que ocupam..
Uma subdisciplina emergiu da geografia social: a geografia cultural, cujo objetivo é relacionar territórios com elementos de identidade cultural como, por exemplo, a esfera latino-americana ou a francofonia..
Ambas as disciplinas, sociais e culturais, são consideradas intimamente relacionadas e subordinadas à geografia humana.
Para alguns autores, a geografia social é simplesmente uma geografia humana contaminada pela sociologia, porém é uma disciplina que conseguiu romper e se mostrou muito útil..
A análise crítica da relação entre os grupos sociais e os territórios que ocupam permite detectar e demarcar áreas de conflito, ajudando a visualizar tanto os problemas como as possíveis soluções ou alternativas..
A visão territorial e espacial proporcionada pela geografia social é uma ferramenta fundamental para os governos locais e nacionais e organizações internacionais, na gestão de situações de conflito, ou na resolução de grandes problemas..
A geografia social também permite prever e planejar o crescimento das cidades e a gestão dos recursos naturais, bem como identificar e localizar tendências e grupos sociais..
As informações fornecidas pela geografia social podem ser utilizadas no planejamento racional do território: localizar zonas de desenvolvimento industrial, parques ou reservas ecológicas, planejar serviços básicos e a construção de moradias..
Aos métodos e técnicas tradicionais da geografia (localização e distribuição, descrição, explicação, comparação, associação, etc.), o aspecto social incorporou outros métodos de outras disciplinas, como antropologia, sociologia, comunicação social, etc..
Além do mapeamento, a geografia social usa pesquisas, revisão de informações, uso de imagens de satélite e fotografias aéreas, pesquisas, censos e questionários, informações governamentais e jornalísticas, etc..
Os geógrafos sociais usam técnicas como o diagnóstico participativo, em que grupos sociais desenvolvem mapas mentais e determinam problemas e necessidades.
Também contam com novas tecnologias para criar sistemas de informação geográfica, que servem para ter uma visão ampla de setores, cidades ou regiões..
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