Jesus de la Helguera (1910-1971) foi um pintor mexicano, de uma obra marcadamente nacionalista e idílica, que a princípio foi classificada como excessivamente comercial, mas posteriormente foi avaliada positivamente pela crítica e pelo grande público..
Helguera é especialmente lembrado pela publicação de suas obras em calendários, os quais foram distribuídos por mais de cinquenta anos no México, com um conceito que destacou a história pré e pós-hispânica do país, sempre carregado de grande esplendor e romantismo..
O mundo artístico homenageou devidamente a sua obra após a sua morte com exposições em importantes espaços culturais, onde o público pôde ter um contacto mais amplo com a sua obra, compará-la e apreciar os palcos e o estilo pictórico utilizado, assimilando assim o seu verdadeiro valor..
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Jesús Enrique Emilio de la Helguera Espinoza nasceu em 28 de maio de 1910 em Chihuahua, México. Seu pai, Álvaro de la Helguera García, era espanhol, enquanto sua mãe, María Espinoza Escarzaga, era mexicana..
Essa mistura de nacionalidades ofereceu ao jovem pintor um amplo contato cultural que se reflete em suas obras, principalmente quando vive no México e na Espanha, por motivos que fogem de seu controle..
Os primeiros anos de sua vida foram na Cidade do México, antes de se mudar para Córdoba, Veracruz, onde não ficou por muito tempo. Aos sete anos, ele e sua família foram forçados a emigrar para a Espanha para fugir da Revolução Mexicana..
Na Espanha, Jesús de la Helguera começou a desenvolver seu talento inato e a se formar academicamente no campo da pintura. Seus professores o admiravam tanto que, aos nove anos, ofereceram-lhe seu primeiro emprego como professor de desenho para as crianças de sua própria escola..
Aos doze anos ingressou na Escola de Artes e Ofícios de Madrid e mais tarde na Academia de Belas Artes de San Fernando. Nesta fase recebeu aulas de renomados mestres da pintura, ganhou prêmios e reconhecimentos, com destaque para os recebidos pelo Círculo de Bellas Arte de Madrid..
A sua carreira docente, iniciada desde muito jovem, continuou em Bilbao, onde foi professor de artes..
A segurança pessoal foi mais uma vez o motivo de mais uma grande mudança na vida de Jesús de la Helguera, que teve que fugir com sua esposa Julia Gonzáles Llanos e seus dois filhos para o México, desta vez devido à guerra civil espanhola.
De volta ao México, trabalhou na revista Eventos para todos e, a partir de 1954, com a editora Galas de México, empresa encarregada de reproduzir sua obra por meio de calendários a pedido de uma empresa de cigarros..
Para a maioria dos mexicanos, os calendários se tornaram uma forma barata de possuir arte em suas casas. Estas foram realizadas por personagens orgulhosos de suas raízes e de sua identidade, com princesas indígenas, galãs e damas em suas fazendas, ao longo de seu cotidiano, acompanhados por um ambiente e iconografia inequivocamente mexicanos..
A empresa solicitante das obras estendeu a Helguera uma lista com os personagens, locais e elementos que deveriam constar nos calendários. Em seguida, uma equipe de campo, incluindo o pintor, viajou aos locais escolhidos tirando fotos de paisagens e estabelecendo ideias adicionais para ter um guia infalível que permitisse ser fiel ao ambiente real exibido na pintura..
No entanto, os críticos não levaram essas obras a sério, acusando-as de ser um produto comercial, mostrando um México idealista e irreal, desprovido de modernidade e desenvolvimento, que até idealizou a pobreza..
A obra de Helguera vai além da publicação de calendários, com mais de seiscentas pinturas em seu crédito que mantêm em comum seu apego à tradição e ao nacionalismo, sejam mexicanos ou espanhóis..
Suas obras denotam a influência do catolicismo que o acompanhou pessoalmente ao longo de sua vida, o que não o impediu de realizar pinturas de marcante erotismo feminino, como pode ser visto em sua visão de Leda e o cisne.
Em suas pinturas de cor e realismo intensos, sempre destacou o belo e o romântico, com rostos simétricos, sensuais ou corajosos, conforme o caso. Também por isso recebeu críticas, promovendo em algumas obras o que alguns críticos descrevem como uma estética europeia que não se coaduna com a realidade mestiça mexicana..
A imagem da mulher como protagonista submissa é outra das críticas que surgiram nos últimos anos em torno da obra de Helguera, acusada de estereotipar a figura feminina ao vinculá-la a papéis que ainda hoje têm sido difíceis de abandonar..
Entre suas obras mais destacadas estão:
-A lenda dos vulcões
-A oração da noite
-A garota com os limões
-A despedida
-Juan Escutia
-A fundação do México-Tenochtitlán
-Orquídeas para você
-A pátria
-A morte do toureiro
-A ponta da flecha do céu
-O Bravo
-Leda e o cisne
-A noite triste
-O xale
-As manhãzinhas
-Cuauhtémoc
-La Bamba
-Beleza crioula
-Idílio cigano
-Flor da Lua
-Amor indiano
-Grandeza asteca
-O mês de maria
Jesús de la Helguera morreu em 4 de dezembro de 1971 na Cidade do México, aos 61 anos. A Time se encarregou de oferecer a perspectiva necessária para que o mundo pudesse valorizar sua obra e realizar homenagens e reconhecimentos em agradecimento por sua contribuição artística..
Em 1986, o Palácio de Bellas Artes do México acolheu a retrospectiva de sua obra “Jesús Helguera, pintor de almanaques”. Em 2010, o centenário do seu nascimento foi celebrado com atividades culturais, promovidas especialmente pelo museu Soumaya, onde se encontram algumas das suas obras; além da colocação de uma placa comemorativa em seu local de nascimento.
Sem dúvida, sua obra não deixa indiferente quem a aprecia, seja pelo uso da cor intensa, pelo realismo que imprime na tela, seja pelo conceito de México de outrora que abre debates sobre a forma como para alguns deve ser realmente lembrado.
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