A resposta parece óbvia, mas depois de pensar muito sobre isso, percebi que a resposta não é tão fácil. Acabei de publicar um livro de dicas para contornar as páginas de namoro. E na maioria das entrevistas me fazem esta pergunta, junto com outras que revelam o desconhecimento desse fenômeno de interagir pela Internet:
“As pessoas procuram que as coisas aconteçam com elas”, diz Mariola Dinarés, cofundadora do Quedemonline.cat, um site de relacionamento de Barcelona, coisas como:
Todas essas experiências servem para enriquecer nosso mundo de relacionamentos: seja com aventuras curtas, com companhia permanente ou com relacionamentos virtuais sem perspectiva de se tornarem reais. E queremos nos enriquecer para além dos rótulos relacionais, porque nossa fome social também se alimenta de experiências que não chegam à categoria de relacionamento: uma conversa, um pouco de atenção, uma libido satisfeita, a oportunidade de esquecer-se um pouco graças ao interesse. que outro nos acorda. Para terminar descobrindo que além do nosso mundo social, existe um mundo de relações possíveis.
Somos apaixonados por tudo o que vai ao encontro das necessidades do animal social que somos, quer as satisfaçamos de forma virtual ou presencial (no que chamamos de vida real já que existe a Internet). E cuidado! Porque se fazemos essa diferença entre a Internet e a vida real é porque, porque a diferença existe. Não é um truísmo dizer isso: na Internet interagimos de uma forma diferente, uma forma que muda os próprios relacionamentos. Pense nisso: nesta era hipertecnológica em que vivemos, e até que a telepatia se torne patente, nossas carícias verbais, expressões de afeto e prazer, conversas e explorações do território das relações se dão, sobretudo, por escrito..
Por muito tempo, os pesquisadores acreditaram que era impossível para as pessoas iniciarem e manterem relacionamentos pela Internet: a presença física parecia essencial. Esta ideia baseou-se na forma como utilizávamos o email quando este surgiu: especialmente para fins profissionais ou académicos em ambientes empresariais ou universitários. Isso levou à ideia de que as comunicações através de uma rede de computadores só poderiam ser impessoal, e foi assim que eles foram batizados.
Como esperado, a realidade estava à frente de nossa compreensão do que estava acontecendo. Enquanto os pesquisadores continuavam convencidos de que relacionamentos baseados em texto eram absurdos, os usuários construíram relacionamentos na Internet. Primeiro isoladamente. Mais tarde o hábito se espalhou: viu-se então que o e-mail também servia para contar a outro que estávamos nos mudando, para compartilhar nossas aventuras sentimentais com um amigo, ou simplesmente para fofocar sobre um colega.
E aconteceu que não falamos apenas com as pessoas do nosso círculo, mas também com outras pessoas que nunca tínhamos conhecido. Lembra da explosão do bate-papo? Então o uso social da palavra escrita na rede ficou evidente e as pessoas começaram a falar sobre comunicação interpessoal online.
Hoje sabemos que as relações pessoais na Internet têm uma velocidade acelerada, se comparadas às presenciais. É fácil para dois usuários chegar à conclusão de que eles têm muito em comum depois de trocar algumas mensagens escritas (em tempo real ou não). Estando separados fisicamente e não recebendo informações visuais do outro, fazemos um corte bruto e colamos com as informações parciais que chegam até nós do nosso parceiro comunicativo. É assim que "inventamos" a pessoa que está "do outro lado".
Soma-se a isso que, para suportar as inúmeras incertezas que um relacionamento nos apresenta sem informações suficientes sobre o outro, nos lançamos a questionar sobre os aspectos íntimos e a mostrá-los muito antes do que nas relações face a face. E aí está a fórmula para uma relação expressa e o que os pesquisadores de comunicação em rede têm chamado comunicação hiperpessoal. O casal conversacional é levado a uma intimidade repentina e intensa: as semelhanças são exageradas, as diferenças são minimizadas.
A resposta é não. O que devemos fazer é estar atentos a essa intimidade expressa, e tomar medidas de segurança em nossos relacionamentos virtuais até que nos conheçamos minimamente. Além disso, temos que continuar vivendo nossos relacionamentos no mundo face a face, que é o que a maioria de nós parece fazer..
Também não devemos esquecer as vantagens de nos abrirmos tão rapidamente para outras pessoas na rede. Quando temos que conviver com problemas cotidianos, muitos de nós recorremos à Internet em busca de informação e educação, mas também buscamos ajuda de outras pessoas, às vezes desconhecidas, ou de redes de apoio que têm presença virtual e presencial..
Acho que tudo o que procuramos em sites de relacionamento já foi dito antes. Mas gostaria de terminar falando sobre aqueles que estão neles: são eles e eles que buscam o catálogo de estímulos relacionais de que falei no início. Só falta mais uma condição para estar na rede, disposto a dar e receber todos aqueles estímulos: uma fome social suficiente para superar a vergonha que ainda nos faz dizer publicamente que buscamos nos relacionar com os outros, no avião seja.
Referências
Principal, Terri. Impessoal, interpessoal ou hiperpessoal? Cyber-Talks. Disponível em: http://goo.gl/9keEfD. Último acesso: 08/10/2015.
Nardi, B., & Whittaker, S. (2002). O papel da comunicação face a face no trabalho distribuído. Em P. Hinds & S. Kiesler (Eds.), Distributed work (pp. 83-112). Cambridge, MA: MIT Press.
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Short, J., Williams, E., & Christie, B. (1976). A psicologia social das telecomunicações. Londres: John Wiley
Turner, J., Grube, J. e Meyers, J. (2001) Desenvolvendo uma combinação ideal com comunidades online: uma exploração de comunidades de suporte CMC e de suporte tradicional. Jornal de comunicação, 51 (2), 231-251.
Walther, J. B. (1996). Comunicação mediada por computador: interação impessoal, interpessoal e hiperpessoal. Pesquisa em Comunicação, 23 (1), 3-43.
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