A teoria organicista é uma postura filosófica em que o Estado é considerado um organismo vivo que transcende os indivíduos e onde cada um tem uma função a cumprir para que a vida do todo seja possível..
Para os organicistas, a estrutura da sociedade é organizada e funciona como um organismo biológico de natureza superior, com entidade e existência próprias. Dentro desta teoria, a sociedade é um todo diferente da soma das suas partes (indivíduos), faz parte da essência do ser humano, mas é anterior a este.
Ou seja, de acordo com essa escola sociológica, a sociedade humana é uma forma superior de organização biológica e, portanto, para ela se aplicam as leis da biologia..
Nessa perspectiva, os indivíduos são como as células de um organismo que, sempre dependendo de sua vida, desempenham diferentes funções. O organicismo também é chamado de bio-organicismo no campo da sociologia e se opõe ao mecanicismo.
A concepção orgânica de sociedade dominou grande parte da Idade Média, e foi superada com o surgimento do individualismo decorrente da institucionalização do contrato, parte do direito privado que justifica a fundação do Estado..
Porém, ela ressurge no início do século XIX, envolta na atmosfera da Revolução Francesa, e ainda hoje há reminiscências dessa concepção em alguns países do mundo..
Algumas das características que melhor descrevem a teoria orgânica são:
- A sociedade é um organismo vivo com características especiais que obedece, como organismo vivo, às leis da biologia.
- Os governantes têm como principal missão preservar a unidade do todo. Esta unidade só é possível com concórdia.
- Como consequência do acima exposto, a discórdia é o pior mal em uma sociedade.
- O surgimento ou desenvolvimento de facções que podem enfraquecer o Estado deve ser evitado a todo custo..
- O governo tem, no campo político, a mesma função que o coração tem no corpo humano.
- Um modelo de sociedade orgânica por excelência é a família.
- Os regimes monárquicos atendem a esta concepção de sociedade.
Ao longo dos anos, a história viu filósofos e sociólogos que apoiaram a teoria organicista da sociedade. Nas linhas a seguir, tenta-se refletir a contribuição de alguns deles:
Escrevi Policraticus, antes da obra Política de Aristóteles, e nesse texto ele compara o corpo social com o corpo humano de uma forma muito detalhada:
A essência de seu trabalho inspira o Leviatã de Hobbes e influencia o pensamento dos sociólogos Spencer e Schaffle.
Aristóteles afirmava que o homem é um animal social e que só é homem, em seu sentido pleno, quando vive na polis. Para ele, assim como a parte mais nobre do animal é o coração, na alma do corpo social o governo é a parte mais perfeita..
Da mesma forma, postulou que no Estado, neste todo composto, cada uma de suas partes cumpre uma função específica. E também estabeleceu que "a cidade é por natureza anterior ao indivíduo".
Hegel também afirma em seu tempo e ambiente, uma visão organicista do Estado..
Este pensador, em sua famosa obra A República, expande uma analogia entre as partes da alma e as do Estado..
Para Platão, a justiça se expressa quando cada parte da comunidade cumpre o que lhe corresponde, para garantir a harmonia do todo "sem interferir no que acontece aos outros".
No Defensor pacis ele defende que uma cidade bem constituída, necessária e naturalmente, assemelha-se a um animal “bem disposto”.
Da mesma forma, e fiel aos postulados aristotélicos, ele propõe que o Estado surge em uma sociedade imitando como o animal se origina na natureza..
E conclui: “a relação entre a cidade e as suas partes, assim como a tranquilidade, parecerão semelhantes à relação que existe entre o animal, as suas partes e a saúde”..
Sociólogo moderno que propagou e defendeu uma concepção organicista do Estado, o que implica uma analogia com a teoria da evolução, a saber:
No entanto, ele também notou diferenças:
Aos poucos, Spencer rompe com essa concepção organicista.
Na verdade, hoje, as teorias sociológicas não comparam organismos com a sociedade, mas sim se assemelham a um sistema.
As teorias organicistas derivam da ideia de poder descendente, onde um único governante, o governo de uma única pessoa, é vital, porque somente a unidade da liderança garante a unidade do todo..
Por isso, na Idade Média, época áurea dessa concepção, os sistemas reinantes eram a Igreja e o Império, concebidos monocraticamente..
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